Estava frio. Era começo de inverno e seu coração também necessitava aquecer-se. Há dias não tinha notícias de Edimundo. Nem ao menos um telefonema, Estava com muitas saudades, mas respeitava o seu afastamento e o seu silêncio repentino.
Foi até à praça onde ele costumava passear todas as manhãs, onde ficava por horas, com sua gata Samira lhe rodeando as pernas, enquanto dava milho aos pombos e sentava-se no seu velho banquinho de praça cumprimentando a todos que passavam, ou contando as nuvenzinhas no céu enquanto apreciava o canto dos pássaros.
Francisca deu um suspiro e olhou aquele céu azul puríssimo, sem nenhuma nuvenzinha sequer. Sorriu... Até as nuvenzinhas sumiram...
De repente, sentiu duas mãos leves sobre seus olhos e aos tocá-las, sentiu o calor daquelas mãos firmes que achava tão lindas. Sem se virar, colocou as mãos sobre as dele e então ele acariciou o seu rosto e ela fechou os olhos, jogando a cabeça para trás... Quando abriu os olhos, estava de frente para ele com as mãos nos seus ombros...
Edimundo olhou Francisca profundamente, como se só existissem os dois naquela pracinha e deslizou as mãos pelos seus braços e os dois se deram as mãos. Edimundo encostou a sua testa na dela, beijou-lhe os olhos devagar, brincou com seu nariz tocando-o com o nariz dele e então a abraçou forte e desatou num choro sentido. Apertava-a nos braços e soluçava de dor. Naquele momento parecia um menino desamparado... Chorava descompassado e a apertava em seus braços como quem procura um cantinho pra ficar, quietinho ou chorar...
Francisca levou-o para o banquinho de praça, sentaram-se e ela o aninhou em seu peito, acariciando seus cabelos e enxugando seus olhos com um lencinho com cheiro de rosas. Aos poucos parou de chorar e Francisca se deu conta que ele estava só... O motivo de tanto choro deveria ser pela gata, companheira inseparável de seus passeios. Ela segurou a cabeça de Edimundo, carinhosa, com as duas mãos suaves e com os olhos brilhantes e ternos balbuciou: - Samira?
Segurando novo soluço, Edimundo apenas balançou a cabeça afirmando que sim e apoiou a cabeça nos ombros de Francisca, como querendo ficar transparente ou se esconder dentro deles. Francisca o abraçou e deu-lhe um beijo na cabeça. Ficaram assim por muito tempo, até que Edimundo levantou a cabeça, olhou-a nos olhos e disse: - Atropelada...
Edimundo abraçou Francisca, como um menino perdido que abraça a mãe e deu um beijo em sua bochecha... Francisca sorriu... Nada de beijos ardorosos de amor... Nesse momento ele não a via apenas como a mulher amada. Enxergava-a como um porto seguro, extravasando seus sentimentos, sem precisar fingir uma força que não tinha...
Os beijos que Francisca tanto sonhava teriam que ficar para depois...
luciasukie
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